Dois Haikais

A fruta gargalha

gargalha na galha e cai -

estrela madura.

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Tempo feito o tombo

do gume sobre a laranja -

cada dia um gomo.

Calço o poema

Calço o poema

e sigo página por página

até tombar em mim.

Pior que me ter escrito

é sofrer descalço

a pronúncia das pedras.

Titanic

Que pente

me trará

à praia

desta azul

cabeleira

onde jazo?

(nado)

Nada mede

o grito

que se faz

eu-Morse.

Abissal

no rosto

do vazio.

Até mim

não me acode

nenhum mapa.

CONTRACEPTIVO

É da noite

o colher galos

de sua infância.

Para a noite,

o experimento do dia.

A manhã final

previne-se da luz:

o galo in vitro

e o sol na gema.

Fênix

Um corpo

para que o pó o plume

da pedra que o pena,

que pena

é peso de pálpebras

na palha após

do tempo.

A pena

que é do pássaro

o sempre depois

no próprio pó

a repetir-se.

Carbono 14

Pensar a pedra

como atrás fora

o ser, é do chão.

A pedra que dentro

diz da criatura

seu peso-réu

de ambição. (De quem

o novo erro?)

Nosso verbo se iguala

ao dos dinossauros:

          adubos de um paraíso além.

Quântico

Por que sempre

outro barco?

O naufrágio

é o mesmo.

Só o grito

alcança o porto.